sábado, 20 de abril de 2013

O DECRÉSCIMO DO ESPORTES AMADORES NA BAHIA


Na edição desse domingo do jornal A Tarde, a excepcional jogadora de vôlei do Brasil, Fofão, indagada sobre se conhecia algo do esporte baiano, afirmou que nunca viu a Bahia participar de qualquer competição nacional de esportes amadores, ela que já tem 43 anos de idade.


Fofão
Fofão quase acertou, e este “quase” tem até destaque mundial: referimo-nos a Ana Marcela, vencedora do Circuito da Copa do Mundo de Mar Aberto. É muita coisa!
Ana Marcela

De resto, praticamente os esportes amadores na Bahia praticamente desapareceram ou tiveram sua prática diminuída não somente no cenário brasileiro, como igualmente no próprio Estado. São os casos do vôlei, basquete, futebol de salão, tênis, tênis de mesa, hóquei sobre patins, remo, natação de piscina e mais um ou outro.

Vamos tentar buscar as razões dessa pane quase geral da qual só se salva o Box e talvez o iatismo por razões bem específicas que vamos analisar e a natação em mar aberto.

Inicialmente, salientamos que em todo o mundo, os atletas da maioria das atividades esportivas se originam dos clubes e das universidades e excepcionalmente das instituições militares, em se tratando de determinados países europeus e asiáticos.

Nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França a formação de atletas é feita nas universidades que atraem com bolsas de estudos os jovens mais aptos para o esporte. Em conseqüência, essas universidades detêm os melhores técnicos e possuem as melhores instalações esportivas, afora o provimento científico feito por profissionais de diversas áreas.

No Brasil, a fonte originária dos atletas da maioria das modalidades esportivas são os clubes esportivos. Diferentemente dos países acima citados e muitos outros, o jovem brasileiro quando alcança a universidade, deixa a prática esportiva.

Houve um tempo em que havia os Campeonatos Brasileiros Universitários e muitos de nossos jovens se mantinham em alguma forma técnica, mais com vistas às viagens do que propriamente a um objetivo técnico. Saliente-se, inclusive que, as universidades não tinham instalações esportivas e muito menos técnicos.

E o que aconteceu na Bahia, especificamente? Ai pelos idos dos anos 60/70, a maioria dos clubes baianos que sustentavam o esporte amador, sofreu uma débâcle financeira causada pela mudança estrutural de nosso Carnaval. Parece incrível essa afirmação, mas é a pura realidade e vamos mostrar como isto aconteceu.


Até esses anos -60/70 – os grandes clubes de Salvador, exceção do Yacth Clube, tais como Associação Atlética da Bahia, Clube Baiano de Tênis, Clube Português da Bahia, Fantoches da Euterpe e Associação Atlética Banco do Brasil, viviam praticamente dos grandes carnavais nos seus salões. O quadro social pagava suas mensalidades em dia, ou liquidava a fatura de uma só vez, com vistas ao Carnaval. Os dias da festa não eram a fonte de renda principal, apesar da venda de bebida e comida em grande quantidade. O que, verdadeiramente, sustentava esses clubes era a manutenção de uma renda proporcionada pelas mensalidades. (Não é isso grande Waldir do Baiano de Tênis – tem muita história para contar: uma delas envolve a pessoa de Baby Pignatari, milionário, passando o Carnaval na Bahia. Na segunda feira gorda do Baiano o homem resolve ir ao Carnaval do grande clube. Não era sócio. Foi barrado na porta por Waldir. Inconformado, perguntou a Waldir quanto custava o clube. Ele o compraria. A resposta veio de supetão: o Clube não está à venda.) Naquele tempo podia se falar assim.

Publicação de um jornal local
Baby
Clube Baiano de Tênis

Pois bem! Eram esses clubes que sustentavam os esportes amadores. O autor desse blog era atleta de tênis de mesa e Futebol de Salão da Associação Atlética da Bahia. O clube também tinha destaque no basquete, no vôlei, na natação e no tênis de campo. (Fala Enéas da Costa Torreão- campeão baiano muitas vezes dessa modalidade). O Baiano de Tênis tinha grandes equipes de basquete e vôlei, masculino e feminino, afora o tênis com Carlos e Jorge Abreu no auge. No Clube Português da Bahia, praticava-se Hóquei sobre patins com Fernando Jardim à frente, além de manter uma equipe de natação. Na Associação Atlética Banco do Brasil a natação corria solta com Carlos Cordeiro na direção técnica. Até o Fantoches que muita gente pensa que só era de Carnaval, tinha uma grande equipe de tênis de mesa com Raimundo Cardoso, Silvio e Zé Marques. Era o esporte que cabia em seus salões.

Fantoches da Euterpe

O caso do remo é emblemático. Não se pode dizer que os clubes que prestigiavam essa modalidade dependiam do Carnaval. Alguns deles tinham suas festas (São Salvador e Itapagipe), mas não se pode comparar com as realizadas pelos co-irmãos da Cidade Alta (Fantoches) e da Barra (AAB-CBT-AABB).

Em dias de regata, o Porto dos Tainheiros se enchia de gente. O trânsito era interrompido no local. Vapores da Baiana eram contratados pelos clubes e faziam um Carnaval em suas dependências. Ficavam apoitados mais para o lado do Lobato, afim de não prejudicar os páreos. Quando os yoles e os auto riggers despontavam em frente ao hidroporto, os navios apitavam freneticamente. As orquestras cresciam o tom. Os rapazes corriam para a balaustrada do navio. As meninas aproveitavam para ir ao sanitário. Em terra o povo gritava. Os apostadores corriam em terra acompanhando o desenrolar do páreo. Em muitos deles a decisão era por bico. Ficavam aguardando o levantamento das bandeirinhas dos juízes de chegada posicionados num elevado em meio ao mar. De cima para baixo era a classificação. Foi o tempo de Jarrinha, Maranhão, Manoel Gantois, Mário Brito, Jorge Rádel, a dupla da fome (Jorge e Piston), dos Conzenzas, dos Maias, de Feijão, de Parada e tantos outros.
 
Hidroporto da Ribeira

E de uma hora para outra, o remo deixou de ter público. Os clubes se enfraqueceram. O Itapagipe acabou. O Santa Cruz não teve continuidade de direção. O São Salvador esteve prestes a desaparecer. Alguns abnegados o sustentaram. Ainda existe a sua garagem nos Tainheiros. Só o Vitoria, graças ao futebol, se mantem equilibrado, mas sem o fervor de antigamente, ao tempo de Aldo Mendonça e Dr. Gazinho.

Sedes de remo do Vitória e São Salvador
 
Belíssimo - Capa de programa do São Salvador
 
 
Do Vitória
Escudos dos clube de remo de Salvador
 
E o que dizer da grande equipe de basquete do Itapagipe dos Irmãos Moura Costa: Gilberto, Newton,Vavá e o primo Lagartixa. Indio completava o quinteto. O técnico era o próprio pai. Enfrentou por igual grandes equipes do sul do país.

Newton depois foi radialisa e Deputado Estadual. Hoje temos uma rua de Salvador com seu nome.

A verdade é que àquela época tivemos grandes dirigentes de nosso esporte amador, como Casdonski, João Alfredo, Carlos Maia, Jorge Radel, Fauzi Abdala.

Desse quilate hoje, só Sergio Sampaio. Quando se viu sem piscina, partiu para o mar e realiza o maior calendário de natação em mar aberto do Brssil, quiçá da América do Sul. Tem o mar a sua disposição para o circuito que realiza. Nintuém vai tirá-lo como lhe tiraram a piscina da Fonte Nova. Há 40 ou 50 anos atrás, já tínhamos percebido isto. Fomos os pioneiros da natação em mar aberto na Bahia, bem anterior à Travessia Mar Grande Salvador, realização da Fenando Protásio. Meu amigo Genésio Ramos, excepcional e inesquecível figura, deu seqüência.
 
Grande Genésio Ramos
Sérgio Sampaio - Presidente da FBDA
 
De relação ao iatismo, esse se sustenta graças ao Yacht Clube da Bahia. Excelência de clube. Um exemplo para todo o Brasil.

 
Yacht Clube da Bahia

quinta-feira, 18 de abril de 2013

UMA FOTO DE 1950- COMO SURGIU A PISCINA JURACY MAGALHÃES


Em 29 de agosto de 2010, tivemos a oportunidade de publicar uma postagem sobre a ex-piscina da Fonte Nova , então denominada Piscina Juracy Magalhães.  Vamos ver o que foi escrito:

Vale lembrar como surgiu a idéia da construção da piscina da Fonte Nova. Uma equipe de natação da Bahia voltava de um Campeonato Brasileiro realizado em São Paulo. No mesmo avião, viajava o Secretário de Obras e Energia do Governo Juracy Magalhães, Tarcisio Vieira de Mello. O político foi notado e as meninas da seleção, entre elas, Sônia Maria de Jesus, que mais tarde veio a se tornar campeã sul-americana, dirigiu-se ao ministro e pediu-lhe que construísse uma piscina olímpica em Salvador. O secretário do ministro anotou o pedido. Vou fazer toda a força, teria dito o grande político, infelizmente falecido poucos anos depois no Rio de Janeiro, num atropelamento.

Cumpriu sua palavra. Semanas depois daquele contato, o autor desse blog recebeu uma ligação de Raimundo Matta Gantois requerendo sugestões de como deveria ser construída uma piscina que seria feita na Fonte Nova, ao lado do estádio. Raimundo era o engenheiro responsável pelo Departamento de Construções da Secretaria de Obras e Energia

Reunimos todo o material do que havia de mais moderno no mundo e levamos até presença de nosso primo carnal. Uma piscina de 50 metros, uma só profundidade, arquibancadas, banheiros, enfim, uma piscina olímpica para a Bahia. E em 1952 ela foi inaugurada, com instalações incompletas em verdade, mas uma "grande" piscina.
 
Hoje, nos chega às mãos uma foto que tem 63 anos de existência. Foi tirada em 1950. Dentro de um avião de passageiros. Uma delegação baiana de natação voltava de São Paulo, onde foi participar de um Campeonato Brasileiro.
Dentro de um avião em 1950

Nela, estamos vendo perfeitamente as pessoas de Nelson Nogueira da Fonsêca, o Jacaré, em pé e Adilson Braga, sentado.
Adilson foi um grande nadador de peito, principalmente nos 100 metros. 
Nelson foi aquele nadador que venceu uma Travessia Mar Grande-Salvador legitimamente e foi desclassificado, bem como todos os demais participantes dessa prova em 1960. Um dos maiores erros de arbitragem que se tem conhecimento.
É sempre bom lembrá-lo como fez a Federação Baiana de Desportos Aquáticos durante a reunião geral da 49ª Travessia Mar Grande Salvador.
Na ocasião, tiveram o cuidado de mostrar um painel com o percurso do nadador. Enquanto todos os demais nadadores caíram fora da Barra, Nelson conseguiu passar antes do boião que sinaliza o local e conseguiu chegar na praia seguinte a do Porto, anterior ao Farol da Barra. Daí nadou até a Ponta do Forte Santa Maria; venceu a correnteza ali existente e se dirigiu “vitorioso” até o funil de chegada.
Enquanto isto o árbitro da prova desclassificava os nadadores que caíram após o boião, dando a prova como suspensa. Ele veio de fora para a terrra.  Não teve o cuidado de verificar que um nadador havia superado essa dificuldade e vencia legitimamente a prova.
Mas não se protestou contra essa arbitrariedade? E como. Em meio à discussão um diretor do jornal patrocinador ameaçou acabar com a Federação: “vou acabar com essa Federação”. Claro que ele não podia fazê-lo. Teria que acabar com a própria prova. Sem dúvida que a prova existia por que tinha a aprovação oficial da Federação. Mas deixemos para lá. Não temos provas. Quase todas as pessoas já morreram, até Nelson,  o grande “jacaré”.

Hoje, com mais recursos técnicos, apresentamos o percurso do nadador com pespectiva a partir do mar. A linha branca é o percurso vencedor. O losangulo em vermelho seria o barco acompanhante do nadador. Em seguida, o boião da Barra ((triângulo branco) e à direita  os barcos dos outros nadadores que sairam dos limites oficiais da prova.

 
Rota de Nelson Jacaré