Ao se falar em travessias como nós o fizemos na postagem anterior, a primeira pessoa que nos vem à mente para configurar a natação em águas abertas como agora é chamada, é José Liberato de Matos. Treinava na Praia da Preguiça. Trabalhava num trapiche que ali existia – Trapiche Aliança - e na hora do almoço, ia de um lado para o outro naquele espaço. Às vezes derivava até o cais sul do Porto de Salvador. Depois ia almoçar. Aliás, nem sei se Liberato almoçava. Ele era diferente! Tinha muito de oriental em seu procedimento. Olho rasgado. Talvez tivesse uma descendência tibetana, por exemplo. Na época, era o único brasileiro com condições de fazer a travessia do Canal da Mancha. Mas foi tolido. Dentro dos conceitos médicos de então, tinha um coração grande. Tinha que tê-lo. Esse órgão é um músculo -tende a se desenvolver com os exercícios.
Liberato foi o primeiro campeão da Travessia Mar Grande-Salvador em 30 de janeiro de 1955 com o tempo de 3 horas e 50 minutos. Por uma dessas coincidências da vida, Liberato antes de atravessar o funil de chegada no Porto da Barra, tocou num rochedo ao lado do Iate Clube, onde nos encontrávamos assistindo a aproximação do nadador. Em seguida, dirigiu-se para o Porto.
Na época do feito, Liberato tinha 37 anos e 3 meses de idade. Em entrevista ao jornal afirmou que estava encerrando sua carreira de nadador. Tal não aconteceu. Já em março de 1956 pedia à Federação uma tentativa de recorde para a prova. Melhorou seu tempo, mas fora batido antes por Elder Pompilho de Abreu que também fez o mesmo pedido. Em seguida, como já vimos, participou das provas organizadas pela Revista Náutica de Carlos Carneiro.
Muitos anos depois, Liberato morreu pobre, numa palafita nos Alagados de Itapagipe. Pelo menos, morreu em cima do mar!
Liberato de Matos - Tinha uma resistência incomum
No seu lugar, mandaram dois jovens nadadores, aliás, dois grandes nadadores de travessia, Valter Dunha da Silva e Elder Pompilho de Abreu, mas de travessias em águas tépidas. Sabem onde treinaram? Entre o Iate e o cais sul do Porto. Fizeram uma dieta apropriada para o corpo enfrentar uma água gélida de 13º entre Dover e Calais, durante 15 a 20 horas? Não fizeram! Eram obstinados? Não eram! Para fazer uma travessia como esta, tem que ser obstinado. Era o que sobrava em Liberato. Obstinação! Pouca gente sabe. Liberato fez uma travessia inimaginável para qualquer ser humano, pelo menos naquele tempo. Bom Jesús – Salvador. Sabem onde fica Bom Jesus? Depois de Francisco do Conde, lá perto de Santo Amaro da Purificação. A tentativa teve inicio à meia-noite. Coisa de doido! Rebocador da Marinha com o pessoal da Revista Náutica de Carlos Carneiro, patrocinadora do feito. O Professor Nunes como hipnotizador. Liberato tinha medo de tubarão. Tinha que ser sugestionado. Holofotes dirigidos para a ponte daquela cidade. Vez em quando a faixa de luz iluminava o céu. Um pequeno público olhava atônito para aquele cara que já estava n’água. A maioria, pescadores. Como é que pode nadar daqui a Salvador? Foi o que fez Liberato em mais de 12 horas de relógio. Depois ele cumpriu a travessia Ilha de Itaparica-Salvador com sucesso. Tudo isso visando atravessar o Canal da Mancha. Mas não deu! Seria o primeiro brasileiro a fazê-lo. Coube, então a Abílio Couto, um paulista, a façanha.
Na época do feito, Liberato tinha 37 anos e 3 meses de idade. Em entrevista ao jornal afirmou que estava encerrando sua carreira de nadador. Tal não aconteceu. Já em março de 1956 pedia à Federação uma tentativa de recorde para a prova. Melhorou seu tempo, mas fora batido antes por Elder Pompilho de Abreu que também fez o mesmo pedido. Em seguida, como já vimos, participou das provas organizadas pela Revista Náutica de Carlos Carneiro.
Muitos anos depois, Liberato morreu pobre, numa palafita nos Alagados de Itapagipe. Pelo menos, morreu em cima do mar!

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