terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ORIGEM DAS TRAVESSIAS Á NADO NA BAHIA

As travessias a nado na Bahia começaram em Itapagipe. Tinha que ser lá! Não havia nenhuma piscina na península. A juventude nadava no mar. Por outro lado, “havia” todos aqueles contornos peculiares ao local. Aquela beleza! O subúrbio ferroviário do outro lado era sempre um convite para chegar até ele, a nado. Penha-Plataforma-Penha, qual era o menino que não fazia o pequeno percurso? A volta da península! Em dia de maré cheia saia-se dos Tanheiros e nadava-se até a Avenida Beira Mar ou vice-versa. Aí a coisa foi aumentando. Os meninos se tornando rapazes e as meninas, moças bonitas e fortes. Um dia, uma delas, Ângela Maria de Carvalho, resolveu nadar da Praia de Inema, onde hoje o Presidente passa férias, até o Estaleiro do Bonfim. E o fez em nado de costas.Antes ela havia feito a Travessia Mar Grande Salvador. Foi a primeira mulher a fazê-lo. Diz-se que foi outra pessoa, mas não é verdade. Dois promissores nadadores, Valtinho e Elder, também saíram da mesma praia e foram até a Barra. Depois nadou-se de Periperi até a Avenida Beira Mar. Mas tarde, tornou-se uma prova sob o patrocínio do grande clube do subúrbio ferroviário que tinha na presidência o vereador Castelo Branco. Também Orlando Campos do Flamenguinho, o homem dos Trios Elétricos, também patrocinou a mesma travessia.

Vereador Castelo Branco

O interessante nisto tudo é que ninguém dava importância. O “ninguém” aí era a Federação desse esporte, a imprensa, os órgãos públicos, as empresas, ninguém! Quem dava as medalhas nas provas realizadas era o Senhor Chico, morador da Avenida Beira Mar. Tinha algum recurso e gostava de ver aquele movimento. Os nadadores chegando frente à sua casa onde se improvisava um funil de chegada. Hoje a coisa mudou! Estão considerando que as competições em águas abertas é um “retorno à natureza e está acompanhando a mudança filosófica que transformou o mundo com a preocupação dos aspectos ambientais e equilíbrio do homem com a natureza”. Muito bem! Naquele tempo já se fazia isto naturalmente. Acordava-se e nadava-se até o Estaleiro do Bonfim. Noutro dia, ia-se até a Penha e voltava. Lembramo-nos que Valtinho Acarajé quando queria se afastar das preocupações do seu restaurante no Poço começava a nadar por aí. Ia até o Cais do Porto e voltava. Depois ele veio a ser um dos campeões da Travessia Mar Grande-Salvador. Foi campeão também em Santos na Travessia Guarujá-São Vicente.


Valtinho é o quarto à esquerda - junto ao peixe

Abilio Couto

 Nesta prova, o grande Abílio Couto, recordista da Mancha, também participou. Valtinho nadou toda a manhã, a tarde toda e chegou a São Vicente no princípio da noite. A prova foi patrocinada pela Gazeta Esportiva de São Paulo. Também estivemos lá, levando um atleta – Edson da Conceição. Mas Edson tinha pavor ao frio. Informaram-nos que a água era boa, mas o frio chegou a Santos naqueles dias. Certa ocasião, fazendo a Travessia de Copacabana, temperatura ambiente de 40º saiu do mar enrijecido. Se continuasse, morria de hipotermia.
Na travessia de Guarujá-São Vicente o jornal patrocinou todas as despesas de transporte e hospedagem em hotel 5 Estrelas. Aconteceu algo inesperado. Marcada para determinado domingo, a prova não pôde ser realizada naquela data, em razão do mal tempo. Tranferiram-na para o domingo seguinte. Foi a maior das mordomias. Os baianos ficaram mais uma semana em Santos sob os cuidados do jornal e ainda trouxeram o troféu. A partir da segunda ou terceira travessia Mar Grande-Salvador, a prova eliminatória da mesma passou a ser realizada no percurso Periperi- Ponta da Penha. Os 20 melhores colocados poderiam participar da prova maior. Hoje fazem um circuito de provas classificatórias.
Também teve participação baiana na Travessia Ilha Bela-Caraguatatuba com Victor Celso Nogueira da Fonseca. Dominou a prova até poucos metros da praia, mas foi suplantado, também pelo frio. Os paulistas sempre foram muito bons em natação de mar aberto, haja vista que a maioria dos nadadores que atravessaram a Mancha é de São Paulo. São acostumados à água fria. O corpo se ambientaliza com o meio.
Como curiosidade, Batista Pereira, cidadão português, nadador em seu país e que teria nadado no Canal da Mancha, em visita à Bahia, resolveu nadar Encarnação na Ilha de Itaparica até Salvador. Procurou a imprensa e esta deu cobertura. Teve até rádio transmitindo a tentativa. Escolheu um domingo onde a maré estava de enchente na parte da manhã, turno escolhido por ele para o feito. E era dia de Lua Cheia. Imaginem! O homem ficou seis horas em frente ao Elevador Lacerda sem sair do lugar. Aliás, saía. Para trás. Desistiu! Comentou – “nem em seu País havia uma correnteza como aquela”. Parecia um rio descendo um declive rochoso.
Este é um fato pitoresco! Outro foi protagonizado por Parada, grande remador e uma pessoa extraordinária. Um grande gozador. Numa das travessias da Volta da Península, Parada inscreveu-se e comentou: “quero ver essa garotada enfrentar o Dique da Penha”. Mas, o que tem o dique para causar este pavor? Peixes! Muitos peixes! Perigosos! Ficam embaixo do dique. O comentário afastou alguns nadadores cujas mães ficaram preocupadas. Mais tarde se soube que os peixes que ficavam em baixo do Dique Araújo Pinho – este era o seu nome – eram pititingas e chicharros.
Adilson Braga foi um grande nadador de peito. Era do Vitória! Representou a seleção baiana em diversos Campeonatos Brasileiros. Certa ocasião inscreveu-se numa das travessias Periperi-Penha. Começou a prova nadando o estilo que lhe deu fama. Num determinado momento da prova, Adilson aparece na frente da prova. Muito na frente! O juiz da prova começou a estranhar aquela liderança. Nadando peito e com esta vantagem. Aí tem “maracutaia”! Chegou em primeiro lugar. O juiz da prova, antes de anunciar o resultado para a premiação, foi conversar com Adilson. Como você conseguiu este feito? Adilson respondeu aos risos – ninguém é mais rápido que o trem. Adilson havia nadado até Itacaranha. Pegou o trem nessa estação e saltou em Plataforma. Atravessou o Canal da Ribeira e chegou à Penha na frente de todo o mundo.
Outro fato que gerou muita polêmica na época foi o recorde batido por um nadador de nome Leandro, pertencente ao Vitória. O melhor tempo da prova era de 2 horas e 1 minuto, se não nos enganamos, pertencente à Norio Ohata de São Paulo. Leandro cravou 1 hora e 45 minutos, mais ou menos por aí. Era quase o tempo que os ferries-boats da época faziam o trecho Mar Grande-Água de Meninos.
O que aconteceu na realidade foi a trajetória de Leandro. Veio quase em linha reta e conseguiu chegar ao Porto com este tempo maravilhoso. Os demais nadadores, em todos os tempos, até então, se dirigiam em direção ao Elevador Lacerda aproveitando o fim da enchente e depois cambavam em direção à Barra. Fazia a prova em “>”. Quando Liberato nadou pela primeira vez, nadou inicialmente em direção ao Monte Serrat e depois se inclinou para a Barra. Fez o percurso em mais de quatro horas.


O percurso - Ilha de Itaparica-Salvador

O grande Liberato de Matos

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