quarta-feira, 25 de agosto de 2010

TAVINHO



Antes do advento da Federação Bahiana de Natação – sempre com h – a exceção de Aurino Almeida, os demais técnicos eram pessoas curiosas e dedicadas que dirigiam as equipes dos clubes que participavam das competições de natação patrocinadas pela Federação Baiana dos Clubes de Regatas da Bahia: Vitória, São Salvador, Santa Cruz, Itapagipe e Iate.
Eram os casos de Walter Gonçalves e Manoel Gantois. Grandes abnegados! A essa altura Tavinho – Otávio de Oliveira Dantas - iniciava-se como técnico.

Começou sua trajetória na natação como nadador. Pertencia à equipe do São Salvador. Um belo dia, Tavinho conheceu por acaso Walter Gonçalves, pai de Mary Gonçalves, campeã sul-americana de natação. O encontro aconteceu na loja que o pai de Tavinho possuía junto ao Elevador Lacerda, parte de baixo, onde hoje é uma padaria. Chamava-se “A Floricultura”. Walter tinha vindo de São Paulo ainda sem a família, e procurava um imóvel para instalar uma fábrica de saltos de sapato feminino. Deu na Floricultura. Lugar central. Por perto tinham muitos prédios antigos que poderiam servir para a sua futura indústria. Conheceu Tavinho. Em verdade, Tavinho não trabalhava com o pai. Fazia corretagem de imóveis. Walter além do imóvel para sua fábrica precisava de uma boa residência, dentro dos padrões que tinha em São Paulo. Tavinho lembrou-se da casa dos Maias na Rua Democrata, no alto do morro da Preguiça. Os Maias eram remadores do Santa Cruz, aliás, grandes remadores. Eram proprietários de uma casa comercial denominada Casas Maia, especializada em tecidos. Levou Walter à presença dos dois comerciantes e esportistas. Fecharam negócio. A casa passou a pertencer a Walter Gonçalves. Faltava o local para a indústria. Tinha que ser perto da nova residência. Tavinho localizou um imóvel na subida da Ladeira da Preguiça, há poucos metros da Rua Democrata.
Quando a família veio para Salvador, Mary precisa treinar em algum lugar. Ainda estava em atividade esportiva pelo Clube de Regatas Tietê de São Paulo. Em dias de competição, pegava um avião e participava dos campeonatos paulistas de natação. Walter não era sócio do Yacht Clube da Bahia que possuía a única piscina de clube de Salvador. Mary então treinava na Praia da Preguiça, que é uma piscina natural, tão boa quanto a Praia do Porto na Barra. Tavinho acompanhava o treinamento da grande nadadora. Nesse ínterim Mary e o pai resolveram não mais participar dos campeonatos de São Paulo. Era muito desgastante. Ter que viajar a toda hora. Já estava influenciando no rendimento técnico. Optaram por se filiar a um clube local. Escolheram o Clube de Natação e Regata São Salvador. Tavinho iria formar uma equipe para o alviverde da Ribeira. E os outros nadadores? Tavinho não teve dúvidas: os meninos da Preguiça. E aí surgiram os Aragãos, antecessores de Orlando Aragão, grande nadador de peito no futuro, de Sônia Maria de Jesus, que veio a ser como Mary, também campeã sul-americana, de Edson da Conceição, excepcional nadador de provas de meio fundo e ficou famoso mais tarde, como compositor de grandes músicas. Sua história será contada mais adiante. E aí Tavinho não mais parou. Quando o Salvador deixou a natação, Tavinho foi para o Esporte Clube Bahia junto com o autor dessas linhas. Era um descobridor de atletas de natação. Ninguém resistia aos seus convites. Encerrou sua carreira como professor de natação no Yacth Clube da Bahia, aonde era muito querido. Está aposentado. Obrigado a ficar em casa por questões de saúde, mas de vez em quando fugia lá do Tororó onde mora e se mandava para o Yacth Clube. Passava tardes inteiras revendo seus alunos do passado, hoje médicos, engenheiros, advogados, empresários. Não há ninguém nessa Bahia e nesse Brasil que não goste de Tavinho. De vez em quando Tavinho variava as fugidas. Em vez do Yacth, Tavinho ia para Itapagipe, aonde se encontrava com Roberto Macedo que foi seu nadador. Roberto foi, por algum tempo, professor de natação do Clube de Regatas Itapagipe, antes do seu fechamento. Passavam tardes inteiras conversando. A família preocupada ligava para o Yacth. Tavinho não estava, claro! Lembrava-se de Roberto. Deve estar com ele. Liga para o celular dele e Roberto vinha trazer em casa o grande amigo e seu ex-professor. O mesmo fazia o Yacht Clube quando era a sua vez. Chamava um táxi e mandava levar Tavinho para sua residência. Gesto bonito, há de se reconhecer. Hoje Tavinho não mais aparece. “Prenderam-no” em casa. Deve está sofrendo. Ele precisa de comunicação, de ver seus ex-nadadores, de “ouvi-los” sem escutá-los, apenas com os olhos e o coração.

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