sexta-feira, 27 de agosto de 2010

EVOLUÇÃO TÉCNICA 3

Até 1960 a Bahia participou de diversos Campeonatos Brasileiros de Natação, a maioria realizada no eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Em todos eles não fez nenhum campeão, apesar do empenho de todos. Havia uma diferença técnica absolutamente visível. Na questão de estilo, não havia muita diferença. O problema residia no sistema de treinamento que se fazia em Salvador em relação ao que era feito no sul do País.
Praticamente, só existia um técnico de renome em nosso Estado, o senhor Aurino Almeida que treinava o Esporte Clube Vitória. Ao que se sabe, Aurino foi nadador no Rio de Janeiro, casou e veio morar em Salvador. Não era formado em Educação Física, apesar de lecionar natação no antigo Instituto Normal da Bahia, como professor licenciado.
Este senhor era um exímio “estilista”. Seus nadadores possuíam um estilo admirável de nadar. Lembramo-nos muito bem de Gilson Argolo, Antônio Batista, Tristão Nunes Menezes, Marilia Barreiros e tantos outros. Apesar disto, nenhum deles foi campeão brasileiro de piscina.
Quando o autor desse blog começou a dirigir a equipe do Clube de Natação e Regata São Salvador e, posteriormente, Esporte Clube da Bahia, rapidamente o domínio das competições locais foi tomado do Esporte Clube Vitória.
A pergunta que se faz é a seguinte: tínhamos mais conhecimento técnico que o senhor Aurino? Não. Não tínhamos! E porque do domínio? Força! Os nossos atletas tinham mais força que os atletas de Aurino. Nesse particular é sabido que o grande técnico do Vitória desenvolvia uma teoria que seu nadador não podia praticar outro esporte, por exemplo. Não podia ter músculos avantajados. Não podia fazer nada, senão nadar.
Já os nossos nadadores eram fortes de natureza. Jogavam bola. Pescavam. Faziam outros esportes, etc. Treinavam na praia. Os treinos dos nadadores do São Salvador eram feitos de manhã cedo, precedido de muita ginástica. Não deu outra. As vitórias foram surgindo, primeiramente nas competições infanto-juvenis e, posteriormente, também na de adultos.
O Aurino se afastou, recolhendo-se no Yacth Clube da Bahia que deixou de competir por longos 10 anos e ficamos nós, juntamente com Tavinho, a comandar a “nova” natação da Bahia. Ganhamos todas as provas, tanto de piscina como em águas abertas. Nestas últimas, nas eliminatórias da Travessia Mar Grande-Salvador, chegamos a classificar 19 nadadores em 20 para competir na grande prova.
Mas essa “nova” natação diminuiu a diferença técnica em relação à natação do sul do País? Não! Melhorou um porquinho. Já fazíamos um terceiro lugar, como foi o caso de Orlando Batista nos 100 metros peito com 1.12.8 e Neyde Gantois nos 100 metros, nado livre, com 1.15.00. As sulistas já faziam 1.05.00. Era muita diferença!


Neidinha Gantois

Tomamos uma providência. Tínhamos conhecimento que o Clube Paulistano de São Paulo havia contratado um técnico japonês, que pertenceu à Associação Cristã dos Moços de Tóquio. Seu nome? Igai. Entre outros nadadores treinava Norio Ohata que veio a ganhar por duas vezes consecutivas a Travessia Mar Grande Salvador. Fizemos contato com ele e acompanhamos seu treinamento por cerca de 20 dias em São Paulo. Norio veio a competir em Salvador, em razão de nossa aproximação com Igai. O convidamos para dar um curso em Salvador, curso este patrocinado pela Federação Baiana de Natação e Secretaria de Educação da Bahia. Um sucesso! Presente grande número de professores de Educação Física, técnicos locais e nadadores.
No ano seguinte, ainda como resultado de nossas freqüentes idas a São Paulo, tomamos conhecimento de um curso que seria realizado na Cidade de Rio Claro sob o patrocínio da Gazeta Esportiva e Federação Paulista de Natação. Inscrevemo-nos no referido curso. Acompanharam-nos Tristão Nunes Menezes que começava a treinar Rodrigo Liberato de Matos e Walter Dunha da Silva para travessias e o próprio Aurino Almeida, ainda no Esporte Clube Vitória. Tivemos um grande desempenho, ficando em segundo lugar na prova escrita, entre mais de 100 treinadores e professores de Educação Física de todo o Brasil. As conversas com Igai surtiram um excelente efeito. O curso teve como coordenador o Professor José Alves Sobrinho.
Entre os participantes desse curso, estava Antônio D’Renzo que, mais tarde, à nosso convite,veio dirigir a equipe de natação da Associação Atlética da Bahia. Já tínhamos deixado o Esporte Clube Bahia e éramos o Presidente da Federação Baiana de Natação.
Em postagem anterior, contamos o sucesso do treinamento de Rodrigo Liberato de Matos, segundo colocado nos 1500 metros nado livre, perdendo apenas para Tetsiu Okamoto, como também já nos referimos ao treinamento de Sônia Maria de Jesús, vencedora dos 400 metros nado livre na piscina do Vasco da Gama. Ambos os nadadores treinados dentro dos princípios do Interval Training ou Treinamento Intervalado, que Igai trouxe para o Brasil. Esses foram os primeiros resultados de uma nova concepção de treinamento.

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