Esta foi mais ou menos a manchete publicada no dia seguinte à prova. Explicava-se que por questão se segurança, todos os nadadores foram retirados da prova. Uma fortíssima correnteza carregou todos os nadadores para fora da barra, inclusive os barcos acompanhantes.
Mas, será que todos os nadadores e barcos efetivamente saíram da chamada “área de segurança?”
Esta é a dúvida que hoje será esclarecida nesse blog. O seu autor na época técnico de natação do Esporte Clube Bahia, participava da prova como guia do nadador Nelson Nogueira da Fonseca, conhecido também como “Nelson Jacaré”, excepcionai nadador de fundo, campeão de provas de 400, 800 e 1500 metros em piscina. Infelizmente, Nelson já é falecido e não poderá atestar o que agora se vai revelar, mas seus irmãos que assistiam a prova em terra viram seus últimos lances e poderão confirmar o que agora se revela.
Efetivamente, a correnteza de vazante era muito forte. A maioria dos barcos estava se dirigindo para fora da Barra. Nelson que vinha frente da corrida quase conseguiu entrar direto. Faltavam cerca de 300 a 400 metros. Estávamos bem em frente do Porto da Barra e a correnteza nos jogava para fora. Ele começou a nadar contra a mesma, de frente. Parei o nadador e disse-lhe: você vai nadar meio a favor da correnteza em direção ao Farol da Barra. Ela vai de pegar de lado. Não adiante enfrentá-la de frente. Essas foram as ordens.
Nesse ponto se faz necessário um esclarecimento: o autor desse blog na época praticava caça submarina. Conhecia bem aquela área. Mergulhava ali quase todas as semanas. Às vezes ia lá fora e pegava a tal da correnteza. Sabia que não podia enfrentá-la de frente. Nadava para o lado e ia sair na Praia do Farol, junto ao Cristo.
Atendendo às instruções o nadador foi cair na Bacia atrás do Farol – entre o Farol e o Forte Santa Maria. Após isto, nadou tranquilamente em direção ao forte. Ali praticamente não existe correnteza, apenas o fluxo de ondas sobre os recifes abundantes naquela área. O problema estava na frente, na ponta do Forte de Santa Maria. Ali a correnteza já se fazia sentir. Próximo, parei o nadador e disse-lhe que era necessário que ele desse um “tiro” de 25 metros para ultrapassar a correnteza. Eu já havia ultrapassado uma vez, mas com nadadeira. Ele faria com sua velocidade de um grande nadador. Foi o que fez e conseguiu vencer sob aplausos de muita gente que se concentrava no cais que ali se projeta. Logo após, cruzava o funil de chegada.
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Hoje temos a felicidade de poder acessar do alto qualquer área do planeta, graças ao Google Earth. Acima a área da prova. À esquerda no alto, ficaram os barcos que haviam saído da barra. À direita, próximo da terra, em amarelo o barco de Nelson quando se resolveu nadar em direção ao Farol. Em traço vermelho o seu percurso. Por fim o Funil de chegada em sinal amarelo.
Lá de fora, vinha a lancha do árbitro, sinalizando que não valia aquela vitória. Mas como não valia? Dizia ele que a prova tinha sido suspensa lá fora com a retirada de todos os nadadores que caíram fora da Barra. Mas Nelson não caiu fora da Barra!!!. Nem o barco do acompanhante. Ele conseguiu cair entre o Morro do Farol e o Forte Santa Maria. Nadou esse espaço, venceu a correnteza na ponta do forte e entrou no funil de chegada, com toda a lisura.
Esse foi o nosso argumento. A realidade, presenciada pelo público que assistiu a manobra do nadador da balaustrada e do cais do forte. Esse público gritava e aplaudia. Foi ao delírio quando o nadador venceu a correnteza da ponta do Santa Maria.
Vejam a grande falha do árbitro. Ele estava super preocupado com os nadadores que se distanciavam na correnteza. Àquele tempo, havia uma aureola de pavor quando um nadador caía fora da Barra. Botavam até um rebocador da Marinha para “salvar” os perdidos no mar. Quase dizia: “perdidos na noite”. Hoje, marcam-se provas com o nadador saindo da Barra com maré de vazante e retornando para o Porto com a maré atenuando-se ou já de enchente.
Cabia ao árbitro, antes da suspensão, verificar a posição de todos os barcos, mas ele só olhou, por que preocupado, com os que estavam lá fora. O barco de Nelson estava quase em terra.
Cometeu a maior injustiça que a natação em Mar Aberto do Brasil já conheceu.
Aqui fica a minha homenagem ao grande campeão da Travessia MarGrande- Salvador de 1960. NELSON NOGUEIRA DA FONSECA




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