sábado, 2 de outubro de 2010

1960- ANO EM QUE NÃO HOUVE VENCEDOR NA TRAVESSIA MAR GRANDE- SALVADOR

(SERÁ QUE NÃO HOUVE MESMO OU OS JUÍZES SE ENGANARAM?)Em 1960 houve um fato inusitado na Travessia Mar Grande-Salvador: “A PROVA NÃO TEVE VENCEDOR – TODOS OS NADADORES FORAM RETIRADOS DÁGUA EM VIRTUDE DA ALTA CORRENTEZA”.

Esta foi mais ou menos a manchete publicada no dia seguinte à prova. Explicava-se que por questão se segurança, todos os nadadores foram retirados da prova. Uma fortíssima correnteza carregou todos os nadadores para fora da barra, inclusive os barcos acompanhantes.
Mas, será que todos os nadadores e barcos efetivamente saíram da chamada “área de segurança?”
Esta é a dúvida que hoje será esclarecida nesse blog. O seu autor na época técnico de natação do Esporte Clube Bahia, participava da prova como guia do nadador Nelson Nogueira da Fonseca, conhecido também como “Nelson Jacaré”, excepcionai nadador de fundo, campeão de provas de 400, 800 e 1500 metros em piscina. Infelizmente, Nelson já é falecido e não poderá atestar o que agora se vai revelar, mas seus irmãos que assistiam a prova em terra viram seus últimos lances e poderão confirmar o que agora se revela.
Efetivamente, a correnteza de vazante era muito forte. A maioria dos barcos estava se dirigindo para fora da Barra. Nelson que vinha frente da corrida quase conseguiu entrar direto. Faltavam cerca de 300 a 400 metros. Estávamos bem em frente do Porto da Barra e a correnteza nos jogava para fora. Ele começou a nadar contra a mesma, de frente. Parei o nadador e disse-lhe: você vai nadar meio a favor da correnteza em direção ao Farol da Barra. Ela vai de pegar de lado. Não adiante enfrentá-la de frente. Essas foram as ordens.
Nesse ponto se faz necessário um esclarecimento: o autor desse blog na época praticava caça submarina. Conhecia bem aquela área. Mergulhava ali quase todas as semanas. Às vezes ia lá fora e pegava a tal da correnteza. Sabia que não podia enfrentá-la de frente. Nadava para o lado e ia sair na Praia do Farol, junto ao Cristo.
Atendendo às instruções o nadador foi cair na Bacia atrás do Farol – entre o Farol e o Forte Santa Maria. Após isto, nadou tranquilamente em direção ao forte. Ali praticamente não existe correnteza, apenas o fluxo de ondas sobre os recifes abundantes naquela área. O problema estava na frente, na ponta do Forte de Santa Maria. Ali a correnteza já se fazia sentir. Próximo, parei o nadador e disse-lhe que era necessário que ele desse um “tiro” de 25 metros para ultrapassar a correnteza. Eu já havia ultrapassado uma vez, mas com nadadeira. Ele faria com sua velocidade de um grande nadador. Foi o que fez e conseguiu vencer sob aplausos de muita gente que se concentrava no cais que ali se projeta. Logo após, cruzava o funil de chegada.



Hoje temos a felicidade de poder acessar do alto qualquer área do planeta, graças ao Google Earth. Acima a área da prova. À esquerda no alto, ficaram os barcos que haviam saído da barra. À direita, próximo da terra, em amarelo o barco de Nelson quando se resolveu nadar em direção ao Farol. Em traço vermelho o seu percurso. Por fim o Funil de chegada em sinal amarelo.
Lá de fora, vinha a lancha do árbitro, sinalizando que não valia aquela vitória. Mas como não valia? Dizia ele que a prova tinha sido suspensa lá fora com a retirada de todos os nadadores que caíram fora da Barra. Mas Nelson não caiu fora da Barra!!!. Nem o barco do acompanhante. Ele conseguiu cair entre o Morro do Farol e o Forte Santa Maria. Nadou esse espaço, venceu a correnteza na ponta do forte e entrou no funil de chegada, com toda a lisura.
Esse foi o nosso argumento. A realidade, presenciada pelo público que assistiu a manobra do nadador da balaustrada e do cais do forte. Esse público gritava e aplaudia. Foi ao delírio quando o nadador venceu a correnteza da ponta do Santa Maria.
Vejam a grande falha do árbitro. Ele estava super preocupado com os nadadores que se distanciavam na correnteza. Àquele tempo, havia uma aureola de pavor quando um nadador caía fora da Barra. Botavam até um rebocador da Marinha para “salvar” os perdidos no mar. Quase dizia: “perdidos na noite”. Hoje, marcam-se provas com o nadador saindo da Barra com maré de vazante e retornando para o Porto com a maré atenuando-se ou já de enchente.
Cabia ao árbitro, antes da suspensão, verificar a posição de todos os barcos, mas ele só olhou, por que preocupado, com os que estavam lá fora. O barco de Nelson estava quase em terra.
Cometeu a maior injustiça que a natação em Mar Aberto do Brasil já conheceu.

Aqui fica a minha homenagem ao grande campeão da Travessia MarGrande- Salvador de 1960. NELSON NOGUEIRA DA FONSECA

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

LIBERATO

Ao se falar em travessias como nós o fizemos na postagem anterior, a primeira pessoa que nos vem à mente para configurar a natação em águas abertas como agora é chamada, é José Liberato de Matos. Treinava na Praia da Preguiça. Trabalhava num trapiche que ali existia – Trapiche Aliança - e na hora do almoço, ia de um lado para o outro naquele espaço. Às vezes derivava até o cais sul do Porto de Salvador. Depois ia almoçar. Aliás, nem sei se Liberato almoçava. Ele era diferente! Tinha muito de oriental em seu procedimento. Olho rasgado. Talvez tivesse uma descendência tibetana, por exemplo. Na época, era o único brasileiro com condições de fazer a travessia do Canal da Mancha. Mas foi tolido. Dentro dos conceitos médicos de então, tinha um coração grande. Tinha que tê-lo. Esse órgão é um músculo -tende a se desenvolver com os exercícios.

Liberato de Matos - Tinha uma resistência incomum

 No seu lugar, mandaram dois jovens nadadores, aliás, dois grandes nadadores de travessia, Valter Dunha da Silva e Elder Pompilho de Abreu, mas de travessias em águas tépidas. Sabem onde treinaram? Entre o Iate e o cais sul do Porto. Fizeram uma dieta apropriada para o corpo enfrentar uma água gélida de 13º entre Dover e Calais, durante 15 a 20 horas? Não fizeram! Eram obstinados? Não eram! Para fazer uma travessia como esta, tem que ser obstinado. Era o que sobrava em Liberato. Obstinação! Pouca gente sabe. Liberato fez uma travessia inimaginável para qualquer ser humano, pelo menos naquele tempo. Bom Jesús – Salvador. Sabem onde fica Bom Jesus? Depois de Francisco do Conde, lá perto de Santo Amaro da Purificação. A tentativa teve inicio à meia-noite. Coisa de doido! Rebocador da Marinha com o pessoal da Revista Náutica de Carlos Carneiro, patrocinadora do feito. O Professor Nunes como hipnotizador. Liberato tinha medo de tubarão. Tinha que ser sugestionado. Holofotes dirigidos para a ponte daquela cidade. Vez em quando a faixa de luz iluminava o céu. Um pequeno público olhava atônito para aquele cara que já estava n’água. A maioria, pescadores. Como é que pode nadar daqui a Salvador? Foi o que fez Liberato em mais de 12 horas de relógio. Depois ele cumpriu a travessia Ilha de Itaparica-Salvador com sucesso. Tudo isso visando atravessar o Canal da Mancha. Mas não deu! Seria o primeiro brasileiro a fazê-lo. Coube, então a Abílio Couto, um paulista, a façanha.

Liberato foi o primeiro campeão da Travessia Mar Grande-Salvador em 30 de janeiro de 1955 com o tempo de 3 horas e 50 minutos. Por uma dessas coincidências da vida, Liberato antes de atravessar o funil de chegada no Porto da Barra, tocou num rochedo ao lado do Iate Clube, onde nos encontrávamos assistindo a aproximação do nadador. Em seguida, dirigiu-se para o Porto.

Na época do feito, Liberato tinha 37 anos e 3 meses de idade. Em entrevista ao jornal afirmou que estava encerrando sua carreira de nadador. Tal não aconteceu. Já em março de 1956 pedia à Federação uma tentativa de recorde para a prova. Melhorou seu tempo, mas fora batido antes por Elder Pompilho de Abreu que também fez o mesmo pedido. Em seguida, como já vimos, participou das provas organizadas pela Revista Náutica de Carlos Carneiro.

Muitos anos depois, Liberato morreu pobre, numa palafita nos Alagados de Itapagipe. Pelo menos, morreu em cima do mar!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ORIGEM DAS TRAVESSIAS Á NADO NA BAHIA

As travessias a nado na Bahia começaram em Itapagipe. Tinha que ser lá! Não havia nenhuma piscina na península. A juventude nadava no mar. Por outro lado, “havia” todos aqueles contornos peculiares ao local. Aquela beleza! O subúrbio ferroviário do outro lado era sempre um convite para chegar até ele, a nado. Penha-Plataforma-Penha, qual era o menino que não fazia o pequeno percurso? A volta da península! Em dia de maré cheia saia-se dos Tanheiros e nadava-se até a Avenida Beira Mar ou vice-versa. Aí a coisa foi aumentando. Os meninos se tornando rapazes e as meninas, moças bonitas e fortes. Um dia, uma delas, Ângela Maria de Carvalho, resolveu nadar da Praia de Inema, onde hoje o Presidente passa férias, até o Estaleiro do Bonfim. E o fez em nado de costas.Antes ela havia feito a Travessia Mar Grande Salvador. Foi a primeira mulher a fazê-lo. Diz-se que foi outra pessoa, mas não é verdade. Dois promissores nadadores, Valtinho e Elder, também saíram da mesma praia e foram até a Barra. Depois nadou-se de Periperi até a Avenida Beira Mar. Mas tarde, tornou-se uma prova sob o patrocínio do grande clube do subúrbio ferroviário que tinha na presidência o vereador Castelo Branco. Também Orlando Campos do Flamenguinho, o homem dos Trios Elétricos, também patrocinou a mesma travessia.

Vereador Castelo Branco

O interessante nisto tudo é que ninguém dava importância. O “ninguém” aí era a Federação desse esporte, a imprensa, os órgãos públicos, as empresas, ninguém! Quem dava as medalhas nas provas realizadas era o Senhor Chico, morador da Avenida Beira Mar. Tinha algum recurso e gostava de ver aquele movimento. Os nadadores chegando frente à sua casa onde se improvisava um funil de chegada. Hoje a coisa mudou! Estão considerando que as competições em águas abertas é um “retorno à natureza e está acompanhando a mudança filosófica que transformou o mundo com a preocupação dos aspectos ambientais e equilíbrio do homem com a natureza”. Muito bem! Naquele tempo já se fazia isto naturalmente. Acordava-se e nadava-se até o Estaleiro do Bonfim. Noutro dia, ia-se até a Penha e voltava. Lembramo-nos que Valtinho Acarajé quando queria se afastar das preocupações do seu restaurante no Poço começava a nadar por aí. Ia até o Cais do Porto e voltava. Depois ele veio a ser um dos campeões da Travessia Mar Grande-Salvador. Foi campeão também em Santos na Travessia Guarujá-São Vicente.


Valtinho é o quarto à esquerda - junto ao peixe

Abilio Couto

 Nesta prova, o grande Abílio Couto, recordista da Mancha, também participou. Valtinho nadou toda a manhã, a tarde toda e chegou a São Vicente no princípio da noite. A prova foi patrocinada pela Gazeta Esportiva de São Paulo. Também estivemos lá, levando um atleta – Edson da Conceição. Mas Edson tinha pavor ao frio. Informaram-nos que a água era boa, mas o frio chegou a Santos naqueles dias. Certa ocasião, fazendo a Travessia de Copacabana, temperatura ambiente de 40º saiu do mar enrijecido. Se continuasse, morria de hipotermia.
Na travessia de Guarujá-São Vicente o jornal patrocinou todas as despesas de transporte e hospedagem em hotel 5 Estrelas. Aconteceu algo inesperado. Marcada para determinado domingo, a prova não pôde ser realizada naquela data, em razão do mal tempo. Tranferiram-na para o domingo seguinte. Foi a maior das mordomias. Os baianos ficaram mais uma semana em Santos sob os cuidados do jornal e ainda trouxeram o troféu. A partir da segunda ou terceira travessia Mar Grande-Salvador, a prova eliminatória da mesma passou a ser realizada no percurso Periperi- Ponta da Penha. Os 20 melhores colocados poderiam participar da prova maior. Hoje fazem um circuito de provas classificatórias.
Também teve participação baiana na Travessia Ilha Bela-Caraguatatuba com Victor Celso Nogueira da Fonseca. Dominou a prova até poucos metros da praia, mas foi suplantado, também pelo frio. Os paulistas sempre foram muito bons em natação de mar aberto, haja vista que a maioria dos nadadores que atravessaram a Mancha é de São Paulo. São acostumados à água fria. O corpo se ambientaliza com o meio.
Como curiosidade, Batista Pereira, cidadão português, nadador em seu país e que teria nadado no Canal da Mancha, em visita à Bahia, resolveu nadar Encarnação na Ilha de Itaparica até Salvador. Procurou a imprensa e esta deu cobertura. Teve até rádio transmitindo a tentativa. Escolheu um domingo onde a maré estava de enchente na parte da manhã, turno escolhido por ele para o feito. E era dia de Lua Cheia. Imaginem! O homem ficou seis horas em frente ao Elevador Lacerda sem sair do lugar. Aliás, saía. Para trás. Desistiu! Comentou – “nem em seu País havia uma correnteza como aquela”. Parecia um rio descendo um declive rochoso.
Este é um fato pitoresco! Outro foi protagonizado por Parada, grande remador e uma pessoa extraordinária. Um grande gozador. Numa das travessias da Volta da Península, Parada inscreveu-se e comentou: “quero ver essa garotada enfrentar o Dique da Penha”. Mas, o que tem o dique para causar este pavor? Peixes! Muitos peixes! Perigosos! Ficam embaixo do dique. O comentário afastou alguns nadadores cujas mães ficaram preocupadas. Mais tarde se soube que os peixes que ficavam em baixo do Dique Araújo Pinho – este era o seu nome – eram pititingas e chicharros.
Adilson Braga foi um grande nadador de peito. Era do Vitória! Representou a seleção baiana em diversos Campeonatos Brasileiros. Certa ocasião inscreveu-se numa das travessias Periperi-Penha. Começou a prova nadando o estilo que lhe deu fama. Num determinado momento da prova, Adilson aparece na frente da prova. Muito na frente! O juiz da prova começou a estranhar aquela liderança. Nadando peito e com esta vantagem. Aí tem “maracutaia”! Chegou em primeiro lugar. O juiz da prova, antes de anunciar o resultado para a premiação, foi conversar com Adilson. Como você conseguiu este feito? Adilson respondeu aos risos – ninguém é mais rápido que o trem. Adilson havia nadado até Itacaranha. Pegou o trem nessa estação e saltou em Plataforma. Atravessou o Canal da Ribeira e chegou à Penha na frente de todo o mundo.
Outro fato que gerou muita polêmica na época foi o recorde batido por um nadador de nome Leandro, pertencente ao Vitória. O melhor tempo da prova era de 2 horas e 1 minuto, se não nos enganamos, pertencente à Norio Ohata de São Paulo. Leandro cravou 1 hora e 45 minutos, mais ou menos por aí. Era quase o tempo que os ferries-boats da época faziam o trecho Mar Grande-Água de Meninos.
O que aconteceu na realidade foi a trajetória de Leandro. Veio quase em linha reta e conseguiu chegar ao Porto com este tempo maravilhoso. Os demais nadadores, em todos os tempos, até então, se dirigiam em direção ao Elevador Lacerda aproveitando o fim da enchente e depois cambavam em direção à Barra. Fazia a prova em “>”. Quando Liberato nadou pela primeira vez, nadou inicialmente em direção ao Monte Serrat e depois se inclinou para a Barra. Fez o percurso em mais de quatro horas.


O percurso - Ilha de Itaparica-Salvador

O grande Liberato de Matos

EVOLUÇÃO TÉCNICA 4

CLUBE OLIMPICO DE NATAÇÃO

O Esporte Clube Bahia após cerca de 10 anos competindo em provas de natação de piscina e de águas abertas, extinguiu o seu Departamento de Natação. Em verdade, este clube ao se inscrever na Federação Baiana de Natação, pretendia ganhar o direito de obtenção de verbas junto ao Comitê Olímpico Brasileiro. Também inscrito na Federação Baiana de Atletismo e de outro esporte olímpico, possivelmente o voley ou o boxe, podia se candidatar às operações de crédito.
Vale salientar que se o grande clube baiano obteve qualquer verba através dessa providência, o destino verdadeiro da verba era o futebol profissional. Essa é que é a grande verdade. Diz-se que o clube investiu também na sua sede na Boca do Rio, aonde fez até uma piscina de 50 metros. Apesar disso, a sua equipe nunca treinou nessa piscina. Realizava seus treinos na piscina olímpica da Fonte Nova.
Quando o Bahia se afastou, surgiu o Clube Olímpico de Natação sob a direção de Walter Figueiredo. Ele soube aproveitar muito bem a ocasião. Qualquer pessoa faria isto! Decorria o ano de 1968.
Este clube funcionou até recentemente e, suspendeu suas atividades por dois anos, em razão da destruição das piscinas da Fonte Nova para construção de um novo estádio.
Em 42 anos de atividade, este clube fez grandes atletas. Desenvolveu a natação da Bahia e muitos dos seus nadadores foram campeões brasileiros. Foi uma etapa de grande progresso técnico.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

EVOLUÇÃO TÉCNICA 3

Até 1960 a Bahia participou de diversos Campeonatos Brasileiros de Natação, a maioria realizada no eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Em todos eles não fez nenhum campeão, apesar do empenho de todos. Havia uma diferença técnica absolutamente visível. Na questão de estilo, não havia muita diferença. O problema residia no sistema de treinamento que se fazia em Salvador em relação ao que era feito no sul do País.
Praticamente, só existia um técnico de renome em nosso Estado, o senhor Aurino Almeida que treinava o Esporte Clube Vitória. Ao que se sabe, Aurino foi nadador no Rio de Janeiro, casou e veio morar em Salvador. Não era formado em Educação Física, apesar de lecionar natação no antigo Instituto Normal da Bahia, como professor licenciado.
Este senhor era um exímio “estilista”. Seus nadadores possuíam um estilo admirável de nadar. Lembramo-nos muito bem de Gilson Argolo, Antônio Batista, Tristão Nunes Menezes, Marilia Barreiros e tantos outros. Apesar disto, nenhum deles foi campeão brasileiro de piscina.
Quando o autor desse blog começou a dirigir a equipe do Clube de Natação e Regata São Salvador e, posteriormente, Esporte Clube da Bahia, rapidamente o domínio das competições locais foi tomado do Esporte Clube Vitória.
A pergunta que se faz é a seguinte: tínhamos mais conhecimento técnico que o senhor Aurino? Não. Não tínhamos! E porque do domínio? Força! Os nossos atletas tinham mais força que os atletas de Aurino. Nesse particular é sabido que o grande técnico do Vitória desenvolvia uma teoria que seu nadador não podia praticar outro esporte, por exemplo. Não podia ter músculos avantajados. Não podia fazer nada, senão nadar.
Já os nossos nadadores eram fortes de natureza. Jogavam bola. Pescavam. Faziam outros esportes, etc. Treinavam na praia. Os treinos dos nadadores do São Salvador eram feitos de manhã cedo, precedido de muita ginástica. Não deu outra. As vitórias foram surgindo, primeiramente nas competições infanto-juvenis e, posteriormente, também na de adultos.
O Aurino se afastou, recolhendo-se no Yacth Clube da Bahia que deixou de competir por longos 10 anos e ficamos nós, juntamente com Tavinho, a comandar a “nova” natação da Bahia. Ganhamos todas as provas, tanto de piscina como em águas abertas. Nestas últimas, nas eliminatórias da Travessia Mar Grande-Salvador, chegamos a classificar 19 nadadores em 20 para competir na grande prova.
Mas essa “nova” natação diminuiu a diferença técnica em relação à natação do sul do País? Não! Melhorou um porquinho. Já fazíamos um terceiro lugar, como foi o caso de Orlando Batista nos 100 metros peito com 1.12.8 e Neyde Gantois nos 100 metros, nado livre, com 1.15.00. As sulistas já faziam 1.05.00. Era muita diferença!


Neidinha Gantois

Tomamos uma providência. Tínhamos conhecimento que o Clube Paulistano de São Paulo havia contratado um técnico japonês, que pertenceu à Associação Cristã dos Moços de Tóquio. Seu nome? Igai. Entre outros nadadores treinava Norio Ohata que veio a ganhar por duas vezes consecutivas a Travessia Mar Grande Salvador. Fizemos contato com ele e acompanhamos seu treinamento por cerca de 20 dias em São Paulo. Norio veio a competir em Salvador, em razão de nossa aproximação com Igai. O convidamos para dar um curso em Salvador, curso este patrocinado pela Federação Baiana de Natação e Secretaria de Educação da Bahia. Um sucesso! Presente grande número de professores de Educação Física, técnicos locais e nadadores.
No ano seguinte, ainda como resultado de nossas freqüentes idas a São Paulo, tomamos conhecimento de um curso que seria realizado na Cidade de Rio Claro sob o patrocínio da Gazeta Esportiva e Federação Paulista de Natação. Inscrevemo-nos no referido curso. Acompanharam-nos Tristão Nunes Menezes que começava a treinar Rodrigo Liberato de Matos e Walter Dunha da Silva para travessias e o próprio Aurino Almeida, ainda no Esporte Clube Vitória. Tivemos um grande desempenho, ficando em segundo lugar na prova escrita, entre mais de 100 treinadores e professores de Educação Física de todo o Brasil. As conversas com Igai surtiram um excelente efeito. O curso teve como coordenador o Professor José Alves Sobrinho.
Entre os participantes desse curso, estava Antônio D’Renzo que, mais tarde, à nosso convite,veio dirigir a equipe de natação da Associação Atlética da Bahia. Já tínhamos deixado o Esporte Clube Bahia e éramos o Presidente da Federação Baiana de Natação.
Em postagem anterior, contamos o sucesso do treinamento de Rodrigo Liberato de Matos, segundo colocado nos 1500 metros nado livre, perdendo apenas para Tetsiu Okamoto, como também já nos referimos ao treinamento de Sônia Maria de Jesús, vencedora dos 400 metros nado livre na piscina do Vasco da Gama. Ambos os nadadores treinados dentro dos princípios do Interval Training ou Treinamento Intervalado, que Igai trouxe para o Brasil. Esses foram os primeiros resultados de uma nova concepção de treinamento.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

EVOLUÇÃO TÉCNICA – 2

Quando a equipe do São Salvador, treinada no mar, começou a disputar as provas de natação de piscina no Instituto Normal da Bahia, ganhou de primeira e ninguém tinha experiência de piscina. Nem sabiam dar volta, inclusive. Qual foi a razão disso? Força. Os atletas do Alviverde faziam muito ginástica, antes dos treinamentos na Avenida Beira Mar em Itapagipe. Eram forçados a fazer, devido ao frio. Os treinamentos começavam às 5 horas da manhã. Temperatura variava entre 19º e 22º.
Não se diga que, no princípio, era um conceito firmado (ginástica para obtenção de força) Era uma necessidade que depois foi percebida.
Esse fato representou a primeira grande evolução da natação baiana. Praticamente, todos os recordes infantis e juvenis foram batidos por seus nadadores.
Maravilhosa foi a sua equipe: Os irmãos Macedo, Zenice e Roberto, os irmãos Gantois, Josenar, Cleber e Neide, os irmãos Vieira Lopes, Denise, Antônio Carlos e Luiz, as irmãs Magalhães, Lucinha e Silvinha, Silvia, Lindaurinha, Afonsinho Rodamilans, Joir Pitangueira, Hélio Moncorvo, Noildo, Tutu, irmão de Waltinho Acarajé, Alaim, Motorzinho, Luiz Baldini, Edson Conceição, Walter Grave, Carlos Mamede, Lito, Odilma e tantos outros que a memória não deixa lembrar na plenitude de sua força.



A linda e forte equipe feminina do São Salvador (Zenice, Denize, Lindaurinha, Silvia, Neide e Odilma. (1954)

Muitos desses nadadores passaram para a equipe do Esporte Clube Bahia, quando se extinguiu o departamento de natação do São Salvador.
Outra evolução da natação se deu com a introdução do “interval-training” – método de treinamento – no meio da natação da Bahia. Tem muitos “precursores” dessa introdução, mas chegou a hora de contar a verdade.
Em São Paulo, os clubes Paulistano e Pinheiro, contrataram quase ao mesmo tempo, dois técnicos japoneses que pertenciam à Associação Cristã de Moços de Tóquio: Igai pelo primeiro e Hirano pelo segundo.


Manoel dos Santos com o pai e o técnico Hirano


Manoel dos Santos e Jonhny Weismuller

Hirano veio a treinar mais tarde o nadador brasileiro Manoel dos Santos que, na piscina do Guanabara no Rio de Janeiro, em tentativa de recorde solicitada à Federação Internacional, bateu o recorde mundial dos 100 metros nado livre com o tempo de 53.6 com passagem nos 50 metros em 25s6. Dia memorável para a natação brasileira: 20 de setembro de 1961.

Uma das etapas do treinamento de dos Santos foi realizada em Salvador.


Enquanto isto, Rodrigo Liberato de Matos, sobrinho de Liberato, havia ganhado a sua primeira Travessia Mar Grande Salvador. Era um nadador excepcional! Só não tinha força e era treinado dentro dos princípios técnicos até então conhecidos. Naquele ano, aí pelos idos de 1953/55, a Bahia participaria do Campeonato Brasileiro de Natação na piscina do Vasco da Gama. Resolvemos preparar Rodrigo para esta prova. Juntamente com Tristão Nunes Menezes que era treinador de nadadores de natação de águas abertas – travessias – e Dr. Ângelo Decânio, famoso médico e grande desportista, fizemos seu treinamento com base no “interval-traning”. Faltavam cerca de 5 meses para a competição. Resultado: Rodrigo foi vice-campeão da prova. Perdeu por batida de mão. Sabem que foi o campeão da prova? Okamoto. Sim! Tetsuo Okamoto, medalha de bronze nas últimas Olimpíadas daquela época.
Também realizamos um trabalho de interval-training com Sônia Maria de Jesus, visando um determinado Campeonato Brasileiro ainda na piscina do Vasco da Gama. Ao final, Sônia foi campeã dos 400 metros nado livre e vice nos 100 metros, livre, batendo o recorde baiano. Em razão desses dois resultados, Sônia foi convocada pela Confederação para integrar a equipe brasileira que disputaria o Campeonato Sul-Americano. Tornou-se campeã sul-americana nos 4x100 metros, nado livre.
O mesmo fizemos com Orlando Aragão, grande nadador de peito. Foi terceiro colocado com o tempo de 1.12.8 em um Campeonato Brasileiro. Nos 50 metros bateu na frente com o melhor tempo de 50 metros então existente no Brasil. A parte de ginástica de Orlando foi feita em academia com vistas a fortalecer principalmente as pernas.
Ainda com o mesmo nadador, introduzimos a nova maneira de nadar o peito com sincronização inovadora e pernada fechada, abrindo apenas as partes inferiores das pernas.
À frente do Esporte Clube Bahia que havia criado seu Departamento de Natação, fomos campeões durante longos 10 anos, ininterruptamente. Nesse período foram desenvolvidos os melhores nadadores da quela década, tanto em natação de piscina quanto de águas abertas: Nelson Nogueira da Fonseca,o Jacaré, (falecido)Victor e Ana, seus irmãos; Itamar, os irmãos Gantois, Cleber (falecido) e Neide; Miguel Argeu, o grande nadador de 200 metros peito; Edmaio Cairo (falecido) em nado de costas; a própria Sonia, o próprio Orlando e sua esposa Maria, também grande nadadora de peito. Lito, campeão da Travessia Mar Grande Salvador. Afonsinho, Hermenésia, Joildo, os irmãos Fleubory, os irmãos Welsuffi, Walter e Graça ,os irmãos Tanajura, José Carlos, Vera e Tânia, Roberto Macedo, Lázáro Guimarães, Bebeto, Welton, ar irmãos do Carmo, Wilma e Maria São tantos, uns lembrados outros imperdoavelmente esquecidos. Faz muitos anos! Todos são os verdadeiros responsáveis pela evolução da natação baiana.
Nota : À medida que os meus nadadores acessarem este blog e, se por acaso, o seu nome não esteja aqui incluído e o queira, favor entrar em contato conosco. Inclua o telefone ou e-mail. Será um grande prazer falar com vocês.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

TAVINHO



Antes do advento da Federação Bahiana de Natação – sempre com h – a exceção de Aurino Almeida, os demais técnicos eram pessoas curiosas e dedicadas que dirigiam as equipes dos clubes que participavam das competições de natação patrocinadas pela Federação Baiana dos Clubes de Regatas da Bahia: Vitória, São Salvador, Santa Cruz, Itapagipe e Iate.
Eram os casos de Walter Gonçalves e Manoel Gantois. Grandes abnegados! A essa altura Tavinho – Otávio de Oliveira Dantas - iniciava-se como técnico.

Começou sua trajetória na natação como nadador. Pertencia à equipe do São Salvador. Um belo dia, Tavinho conheceu por acaso Walter Gonçalves, pai de Mary Gonçalves, campeã sul-americana de natação. O encontro aconteceu na loja que o pai de Tavinho possuía junto ao Elevador Lacerda, parte de baixo, onde hoje é uma padaria. Chamava-se “A Floricultura”. Walter tinha vindo de São Paulo ainda sem a família, e procurava um imóvel para instalar uma fábrica de saltos de sapato feminino. Deu na Floricultura. Lugar central. Por perto tinham muitos prédios antigos que poderiam servir para a sua futura indústria. Conheceu Tavinho. Em verdade, Tavinho não trabalhava com o pai. Fazia corretagem de imóveis. Walter além do imóvel para sua fábrica precisava de uma boa residência, dentro dos padrões que tinha em São Paulo. Tavinho lembrou-se da casa dos Maias na Rua Democrata, no alto do morro da Preguiça. Os Maias eram remadores do Santa Cruz, aliás, grandes remadores. Eram proprietários de uma casa comercial denominada Casas Maia, especializada em tecidos. Levou Walter à presença dos dois comerciantes e esportistas. Fecharam negócio. A casa passou a pertencer a Walter Gonçalves. Faltava o local para a indústria. Tinha que ser perto da nova residência. Tavinho localizou um imóvel na subida da Ladeira da Preguiça, há poucos metros da Rua Democrata.
Quando a família veio para Salvador, Mary precisa treinar em algum lugar. Ainda estava em atividade esportiva pelo Clube de Regatas Tietê de São Paulo. Em dias de competição, pegava um avião e participava dos campeonatos paulistas de natação. Walter não era sócio do Yacht Clube da Bahia que possuía a única piscina de clube de Salvador. Mary então treinava na Praia da Preguiça, que é uma piscina natural, tão boa quanto a Praia do Porto na Barra. Tavinho acompanhava o treinamento da grande nadadora. Nesse ínterim Mary e o pai resolveram não mais participar dos campeonatos de São Paulo. Era muito desgastante. Ter que viajar a toda hora. Já estava influenciando no rendimento técnico. Optaram por se filiar a um clube local. Escolheram o Clube de Natação e Regata São Salvador. Tavinho iria formar uma equipe para o alviverde da Ribeira. E os outros nadadores? Tavinho não teve dúvidas: os meninos da Preguiça. E aí surgiram os Aragãos, antecessores de Orlando Aragão, grande nadador de peito no futuro, de Sônia Maria de Jesus, que veio a ser como Mary, também campeã sul-americana, de Edson da Conceição, excepcional nadador de provas de meio fundo e ficou famoso mais tarde, como compositor de grandes músicas. Sua história será contada mais adiante. E aí Tavinho não mais parou. Quando o Salvador deixou a natação, Tavinho foi para o Esporte Clube Bahia junto com o autor dessas linhas. Era um descobridor de atletas de natação. Ninguém resistia aos seus convites. Encerrou sua carreira como professor de natação no Yacth Clube da Bahia, aonde era muito querido. Está aposentado. Obrigado a ficar em casa por questões de saúde, mas de vez em quando fugia lá do Tororó onde mora e se mandava para o Yacth Clube. Passava tardes inteiras revendo seus alunos do passado, hoje médicos, engenheiros, advogados, empresários. Não há ninguém nessa Bahia e nesse Brasil que não goste de Tavinho. De vez em quando Tavinho variava as fugidas. Em vez do Yacth, Tavinho ia para Itapagipe, aonde se encontrava com Roberto Macedo que foi seu nadador. Roberto foi, por algum tempo, professor de natação do Clube de Regatas Itapagipe, antes do seu fechamento. Passavam tardes inteiras conversando. A família preocupada ligava para o Yacth. Tavinho não estava, claro! Lembrava-se de Roberto. Deve estar com ele. Liga para o celular dele e Roberto vinha trazer em casa o grande amigo e seu ex-professor. O mesmo fazia o Yacht Clube quando era a sua vez. Chamava um táxi e mandava levar Tavinho para sua residência. Gesto bonito, há de se reconhecer. Hoje Tavinho não mais aparece. “Prenderam-no” em casa. Deve está sofrendo. Ele precisa de comunicação, de ver seus ex-nadadores, de “ouvi-los” sem escutá-los, apenas com os olhos e o coração.

EVOLUÇÃO TÉCNICA - 1


Renato Moura Costa - Jogador de basquete e grande nadador

O recorde baiano de natação dos 100 metros nado livre, homens, nos primeiros anos da Federação Bahiana de Natação (com H) era de 1’05”,00, pertencente à Renato Moura Costa, nadador do Clube de Regatas Itapagipe. Decorria o ano de 1953. Renato foi um grande jogador de basquete, tendo formado com seus irmãos Nilton, Vavá e Gilberto, mais Lagartixa, um primo, um dos maiores times desse esporte na Bahia. Também nadava, daí o seu recorde. Aliás, quem não nadava em Itapagipe?
Hoje o recorde dessa modalidade pertence a Edvaldo Valério Silva Filho com 48.54, por sinal uma grande marca.
Com isto queremos demonstrar a evolução técnica da natação daqueles tempos em relação à de hoje.
À nível mundial aconteceu a mesma coisa। Tomemos como exemplo os mesmos 100 metros, nado livro, homens. Em 1924, o recorde mundial foi de 59” de Johnny Weismuller que, mais tarde veio a se tornar o Tarzan nos cinemas.

Johnny Weismuller
Hoje, o recorde mundial pertence a um brasileiro, Ciello, com a marca de 46”,91 – 30/7/2009

Essa evolução deu-se por um conjunto de fatores, desde o aperfeiçoamento dos estilos aos métodos de treinamento e força. Sim! Os nadadores de hoje têm mais força que os de antigamente, inclusive são mais saudáveis.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O MUNDO CRIATIVO DA NATAÇÃO

A Bahia tem uma saga muito forte nessa questão de piscinas. Enterraram alguma caveira de burro em algum lugar e a coisa ficou complicada. Vejam, por exemplo, a atual situação das piscinas de Salvador: nesses dois anos, Salvador perdeu suas três piscinas olímpicas: primeiramente, foi-se a piscina da Associação Atlética da Bahia, afim de que se construísse um condomínio e um clube anexo. No lugar surgirá uma simples piscina de 25 metros. Depois, foi a vez da piscina do Yacth Clube da Bahia. Ela já tinha problemas no que se refere as suas dimensões (49.10 ou 49.90), fato comprovado antes de se iniciar uma das etapas de um campeonato brasileiro. Mais recentemente, em outra intervenção, transformaram-na praticamente numa piscina de recreação, aliás, nesse aspecto, muito bonita. Por fim, foi para baixo da terra, devidamente entulhada, a grande piscina da Fonte Nova, atendendo segundo falam, às exigências da FIFA que não “permite” que em estádios construídos visando a Copa do Mundo de Futebol, haja outros equipamentos esportivos senão o próprio campo de futebol. Uma tremenda balela e um egocentrismo descomunal. Fosse ainda ao tempo de João Havelange que foi nadador do Fluminense do Rio de Janeiro, temos certeza que não se pensaria dessa forma, muito pelo contrário, far-se-iam estádios poli-valentes como forma de ajudar os esportes tidos como amadores.
Enquanto isto acontece de relação ao Brasil, como também de relação à África do Sul onde a exigência se fez sentir, quando se realizam os campeonatos mundiais em países europeus, os estádios locais são apenas reformados, pintados de novo e são mantidos todos os equipamentos extras por acaso existentes. Os seus governos não aceitam essa exigência descabida. Nem se fala nisto! Vá fazer a Copa em outro lugar!
Ainda no caso da Fonte Nova há um detalhe que poucos perceberam. Se for para não ter outros equipamentos esportivos, não custa lembrar que o Dique do Tororó faz parte do complexo esportivo da Fonte Nova. Pelo menos, quando se construiu o Estádio Otavio Mangabeira, fez-se o Ginásio Antônio Balbino e por fim a piscina Juracy Magalhães, homenageando três grandes governadores de nosso Estado, falava-se pela imprensa que o Dique do Tororó seria uma raia de remo ou pelo menos de caiaque. Em assim sendo, é aconselhável esconder esse detalhe da FIFA. Ela poderá querer mais espaço para estacionamento. Por sinal, a esse respeito, já se noticia que há um déficit de estacionamento segundo previsões. Um perigo!

Mas, voltando às nossas ex-piscinas olímpicas, a extinção da então existente na Fonte Nova foi a que mais causou estragos à nossa natação. Nela treinava o Clube Olímpico de Natação que tem na presidência a ex-nadadora Sandra Figueiredo, filha de Walter Figueiredo e irmã de Sérgio, atual presidente da Federação Baiana de Desportos Aquáticos. Como se sabe, o referido clube acaba de pedir afastamento por dois anos da Federação. Seus técnicos foram todos embora para outros clubes e colégios. Uma pena!

Mas, queríamos dar uma sugestão à nadadora-presidente do Clube Olímpico de Natação: porque não treinar no mar? No mar? Sim, no mar Sandra. Foi o que fez Roberto Macedo no Pôço em Itapagipe.


Perau do Pôço



Onde você faria a sua piscina/mar? Vamos de logo assim chamá-la, ou “piscimar. Talvez fique melhor.

Temos duas sugestões: Praia da Preguiça ou Praia do Unhão. A primeira é uma bacia tranqüila. Nela treinaram Liberato de Matos e Mary Gonçalves e toda a turma da Preguiça.


Praia da Preguiça ou Bacia da Preguiça - Belíssima imagem Google Earth

A segunda é também um lugar maravilhoso. Poderia ser em frente às ruínas de um ex-forte que ali existia.


Unhão - Belíssima imagem Google Earth

Mas Roberto só fez algumas raias! Não tem como dar volta, diria Sandra. Concordo Sandra. Você faria algo mais apurado. Não é difícil! Já foi feito uma vez no século passado, por volta de 1940/1950. Manoel Gantois, diretor de natação e pólo-aquático do Santa Cruz àquela época, montou uma estrutura formada por dois blocos flutuantes distantes um do outro cerca de 30 metros e realizou no local algumas provas de natação e uma partida de pólo-aquático entre o próprio Santa Cruz e o São Salvador. Deram-se voltas normalmente nas provas de natação e em seguida prenderam-se as duas traves para o jogo de pólo-aquático. Mais ainda: tudo isto foi realizado à noite. Aonde? Na Enseada do São Joaquim. Ainda não tinha a feira que era em Água de Meninos, como também não existia o prédio que foi da Petrobrás e hoje é um colégio. Um sucesso! Grande público. Autoridades presentes. Foram recebidas na sub-sede do São Salvador que existia no local. Pouca gente sabe disto, mas é verdade, tanto no que se refere ao “piscimar” armado quanto de relação ao imóvel do Alviverde no São Joaquim.

Tem mais, não faltarão empresas que lhe dará apoio. Fica a sugestão!


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

AS PISCINAS DE SALVADOR


Piscina Olímpica da Fonte Nova - Ao lado outra de 25 mts. construída posteriormente

A primeira piscina que se construiu em Salvador foi a do antigo Instituto Normal da Bahia, hoje ICEA.
É uma piscina de 25 metros com 4 raias. É a primeira piscina colegial construída no País. Maria Lenk em seu livro, cita uma determinada piscina no Rio de Janeiro como sendo a primeira. Não foi!

Já a primeira piscina de competição de clube construída em Salvador foi a do Yacht Clube da Bahia. Possuía 50 metros e, inicialmente, era de água salgada. Foi construída pelo Governo da Bahia para realização de competições oficiais patrocinadas pela Federação dos Clubes de Regatas da Bahia, posteriormente Federação Baiana de Natação. Na época, segundo convênio assinado, todos os clubes filiados à Federação dos Clubes de Regatas da Bahia poderiam usá-la para treinamento dos seus nadadores, bem como os campeonatos seriam nela realizados.

Inicialmente cumpriram-se rigorosamente os acordos feitos até que no final da década de 1950, uma sesta feira à noite, aconteceu um desentendimento entre as nadadoras Mary Gonçalves e Arlete Ribeiro dentro do vestiário. Aurino Almeida, técnico do Vitória, clube pelo qual nadava Arlete, invadiu o recinto das moças. Não deveria ter feito! O pai de Mary, Walter Gonçalves, vendo aquilo, foi atrás. Criou-se um grande tumulto! Aí, um soldado que fazia a segurança do local, precipitadamente, disparou um tiro para o alto. Foi uma correria total, mas que, felizmente, não causou nenhum prejuízo material ao clube.

Após este fato, o Yacth resolveu não mais ceder a sua piscina para treinamento de nadadores de outros clubes, bem como proibiu a realização de competições em sua piscina. Essa decisão foi contestada pelos demais clubes, mas mesmo assim, prevaleceu a decisão de sua diretoria na época comandada pelo Sr. M. Chastinet. Fez mais o referido Comodoro: contratou para professor de natação do clube o próprio Aurino Almeida, um dos patrogonistas do tumulto que, de imediato, sugeriu a retirada do clube das competições da Federação. E por longo 10 anos, o grande clube esteve ausente de toda e qualquer realização patrocinada pela Federação Baiana de Natação, causando um sério prejuízo a esse esporte. Em consequência, toda uma geração de nadadores foi prejudicada. Somente quando Heraldo Gama Lobo assumiu a Comodoria, restabeleceu as relações com a Federação. Demitiu Aurino Almeida e contratou um técnico no sul do País. Diz-se que, em verdade, Aurino Almeida não foi demitido. Quando o novo Comodoro lhe comunicou que decidira voltar a competir, o técnico preferiu se afastar. Fez-se um acordo em prol da natação da Bahia.

E o Iate fez grandes equipes.Foram realizadas belíssimas competições na sua piscina recém-reformada. Retiraram um trampolim de 10 metros que existia na parte mais anterior da piscina aonde a profundidade chegava a iguais 10 metros. Um perigo! A piscina ficou uniforme. Uma beleza! Mas aconteceu um problema: quando da realização de um Campeonato Brasileiro patrocinado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, constatou-se que a piscina não tinha 50 metros. Ela possuia, na realidade, 49 metros e 10 centímetros de comprimento. Não era oficial. Não era mais olímpica. Na reforma, o engenheiro inadvertidamente, não percebeu que, na colocação dos azulejos de ambas as bordas, fora colocado cimento a mais e a piscina passou a ter um comprimento menor. Uma pena! O campeonato foi realizado normalmente, claro, mais não foi homologado nenhum recorde brasileiro que, por acaso, viesse a ser batido.

Ainda mais recentemente, em nova reforma, o Iate sepultou em definitivo a idéia da Federação e dos clubes de voltar a realizar competições em sua piscina. Tranformou-a numa belíssima piscina de recreação e lazer para seus associados. Estava certo, dentro dos seus interesses sociais. A natação da Bahia que se virasse de outra maneira!Questão de mentalidade.

Restou a piscina da Fonte Nova. Piscina olímpica de 50 metros – 10 raias. Profunidade uniforme. Excelente para fazer bons tempos. Por mais incrível que possa parecer foi inaugurada sem banheiros. Pode? E prosseguiu assim por longo tempo. Mas, mesmo assim, os atletas do Esporte Clube Bahia, Esporte Clube Vitória e Clube de Regatas Itapagipe faziam os seus treinamentos nestas condições. Ainda não existia o Olímpico, fundado por Walter Figueiredo. Na época, Walter era o responsável direto pelo tratamento da referida piscina. Passou a ser funcionário da Sudesp, dirigida na época pelo esportista João Alfredo.

Mas, enquanto não existia a piscina da Fonte Nova onde os clubes treinavam? Na pequena piscina do ICEA. Os treinos começavam às 18 hóras, desde que nos demais turnos, treinavam ou recebiam aulas de natação os alunos do colégio. Aurino Almeida era um dos professores.

Posteriormente, a Associação Atlética da Bahia fez uma piscina de 25 metros com 6 raias na gestão de Carlos Coqueijo Costa, antes de ser designado para Ministro do Superior Tribunal do Trabalho. Posteriormente, Nilton Silva, construiu uma piscina de 50 metros e ainda uma outra para aquecimento.

Vale lembrar como surgiu a idéia da construção da piscina da Fonte Nova. Uma equipe de natação da Bahia voltava de um Campeonato Brasileiro realizado em São Paulo. No mesmo avião, viajava o Secretário de Obras e Energia do Governo Juracy Magalhães, Tarcisio Vieira de Mello. O político foi notado e as meninas da seleção, entre elas, Sônia Maria de Jesus, que mais tarde veio a se tornar campeã sul-americana, dirigiu-se ao ministro e pediu-lhe que construísse uma piscina olímpica em Salvador. O secretário do ministro anotou o pedido. Vou fazer toda a força, teria dito o grande político, infelizmente falecido poucos anos depois no Rio de Janeiro, num atropelamento.
Cumpriu sua palavra. Semanas depois daquele contato, o autor desse blog recebeu uma ligação de Raimundo Matta Gantois requerendo sugestões de como deveria ser construída uma piscina que seria feita na Fonte Nova, ao lado do estádio. Raimundo era o engenheiro responsável pelo Departamento de Construções da Secretaria de Obras e Energia.
Reunimos todo o material do que havia de mais moderno no mundo e levamos até presença de nosso primo carnal. Uma piscina de 50 metros, uma só profundidade, arquibancadas, banheiros, enfim, uma piscina olímpica para a Bahia. E em 1952 ela foi inaugurada, com instalações incompletas em verdade, mas uma "grande" piscina.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

FEDERAÇÃO BAHIANA DE NATAÇÃO




Ata de Fundação da Federação Bahiana de Natação realizada em 07 de agosto de 1953.

Aos sete dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e cinquenta e três, às vinte horas e trinta minutos com a presença de diversos desportistas que assinaram o livro de presença instituído para esse fim, foi declarada aberta a sessão, na sede e escritório do Esporte Clube Vitória, gentilmente cedida, ocupando-a o esportista Orlando Dórea Reis que, dizendo da finalidade da reunião pediu aos presentes que aclamassem o nome do esportista Carlos Martins Catharino para a presidência da reunião o que foi aceito com uma salva de palmas. Assumindo a direção dos trabalhos o Sr. Carlos Martins Catharino convidou os Srs. Orlando Dórea Reis e Aldo Doria de Mendonça para secretários dos trabalhos. Inicialmente o Sr. Presidente submete à aprovação nomes para a nova entidade, sendo escolhido o de Federação Bahiana de Natação. Foram convidados para comporem a mesa os Srs. Jorge Radel pelo Esporte Clube Vitória, José Guerra pelo Humaytá Esporte Clube, João Maria Soares pelo Esporte Clube Brasil, Edgard Brito pelo Sul América Esporte Clube. Foram explicadas as razões da fundação desta entidade especializada, uma vez que a Federação que atualmente superintende os desportos aquáticos não tem realizado normalmente competições e campeonatos de natação e pólo aquático. Na forma do decreto lei 3.199 de 14 de abril de 1941 e portaria ministerial nº 254 de 01 de outubro de 1941 foram designados aos representantes dos quatro clubes presentes já citados e os esportistas Orlando Dórea Reis, Eraldo de Gama Lobo, Carlos Martins Catharino, Newton Moura Costa, Otávio Dantas e Aderbal Costa Pereira de Freitas,superintendente de Educação Física, para comporem a Comissão para organização dos estatutos com poderes para dirigir a Federação até a sua legalização perante a Confederação Brasileira de Desportos à qual se filiará. Ficou marcada a data de 14 de agosto corrente para aprovação dos estatutos e eleição do Presidente, Vice-Presidente e Conselhos Técnicos. Os Srs. representantes dos clubes presentes ofereceram suas sedes sociais para reuniões da nova entidade. Nada mais havendo a tratar foi pelo Senhor Presidente encerrada a sessão da qual eu, Orlando Dórea Reis, servindo de secretário, lavrei a presente que assino com os demais esportistas considerados fundadores, para os quais apela o Sr. Presidente para seu comparecimento na sessão de aprovação dos estatutos. Assinam:Orlando Dorea Reis, Carlos Martins Catharino Edgar Brito, Antônio M. de Carvalho, Aldo Dorea de Mendonça, Jorge RadelNewton Moura Costa, Otávio de Oliveira Dantas, José Guerra, Cid José Mascarenhas, Antônio Amaral Carneiro, Tristão Menezes, Fernando R. Protasio ,Aderbal Costa P. de Freitas, João Maria Soares, Aurino Manoel de Almeida e Eraldo Gama Lobo

Acima, temos a reprodução da ata de fundação da Federação Bahiana de Natação (com H). Como se vê, assinam a mesma, nomes muito conhecidos da antiga natação, notadamente os nadadores Cid Mascarenhas, Antônio Gama do Amaral Carneiro, Tristão Nunes Meneses e Eraldo Gama Lobo. Não temos certeza se Aderbal de Freitas tenha sido nadador. Seu irmão Henrique Pedreira de Freitas foi um grande nadador de costas. Assinam também dois conhecidos técnicos: Otávio de Oliveira Dantas (Tavinho) e Aurino Manoel de Almeida. Presentes dois jornalistas da época: Newton Moura Costa e Fernando Protásio. Também presente Jorge Radel, grande remador e uma pessoa extraordinária.
Entre os dirigentes, podemos destacar Orlando Dórea Reis e Aldo Dórea de Mendonça, remanescentes do Conselho Técnico de Natação da Federação dos Clubes de Regata da Bahia, o primeiro pertencente aos quadros do Santa Cruz e o segundo do Vitória.
A presença na reunião de Carlos Martins Catharino deveu-se a sua futura indicação para ser o primeiro Presidente da nova federação, o que aconteceu dias após.

Sempre nos perguntamos o porque da indicação do senhor Carlos Martins Catharino para ser o primeiro presidente da Federação de Natação. Empresário de renome e pertencente a tradicional família baiana, o referido senhor não entendia de natação e talvez nunca tenha presenciado uma prova desse esporte. No entanto foi eleito por unamidade, apesar de existir na época nomes esportivos mais credenciados como, por exemplo, Aldo Mendonça e Orlando Dória Reis. Esse dois senhores, teriam tranladado com melhor desempenho a natação da antiga Federação dos Clubes de Regatas da Bahia para a nova Federação Baiana de Natação.

Como se nota, a Federação Bahiana de Natação tem 57 anos e hoje se chama Federação Baiana de Desportos Aquáticos. O presidente atual é Sérgio Figueiredo, filho do esportista Walter Figueiredo. Vem fazendo uma boa administração! Entende muito de natação. Foi nadador, técnico e é um grande estudioso desse esporte.

A nova denominação engloba além da natação de piscina, a de mar aberto e o pólo-aquático. Saltos Ornamentais se houver, também será de sua alçada.

A NATAÇÃO AO TEMPO DA FEDERAÇÃO DE REMO


Piscina do Yacth Clube da Bahia

As primeiras competições de natação de piscina na Bahia se deram por volta de 1938 na então inaugurada piscina do Iate Clube da Bahia, fato ocorrido entre 1936/1937. Tínhamos a data precisa e fotos da época, mas, infelizmente, foi uma das matérias perdidas da inaundação de nosso escritório, conforme citamos quando iniciamos este blog.
Pouca gente sabe que esta piscina foi feita pelo Governo da Bahia visando incrementar a natação no Estado. Na oportunidade, A Federação dos Clubes de Regatas da Bahia,(dirigia a natação) o próprio Yacht e os clubes filiados àquela entidade, fizeram um acordo para que todos os clubes filiados à Federação pudessem treinar em suas raias.
Esse acordo foi cumprido durante um certo tempo, apesar das restrições que o grande clube da Ladeira da Barra, sempre colocou. Como é sabido, o Yacth foi sempre um clube de elite, aliás, da mais alta elite de Salvador. Em razão daquela condicionante imposta pelo Governo do Estado e a Federação, era forçado a ceder as suas instalações para toda aquele gente que não era sócia: os meninos e as meninas da Preguiça e de Itapagipe, por exemplo.
Quiz o destino que numa determinado dia o clube encontrasse uma forte razão para quebrar aquele incômodo acordo. Corria o ano de 1954, se não nos enganamos. Uma competição à noite. Disputa acerrida entre as equipes do São Salvador e E.C. Vitória. O primeiro era dirigido por Walter Gonçalves e Tavinho e o segundo por Aurino Almeida. Após a prova dos 100 metros nado livre, moças, com a participação de Mary Gonçaves, filha de Walter, houve um desentendimento no vestiário entre a grande campeã e a atleta Arlete Ribeiro do Vitória. Inadvertidamente, Aurino técnico de Arlete, invadiu o vestiário das moças em litígio. Walter Gonçalves foi atrás e formou-se um grande tumulto. Naturalmente, acorreram ao local dezenas de pessoas de ambos os clubes criando um tumulto generalizado.No local havia um policial fardado. Precipitadamente, o mesmo deu um tiro dentro do corredor onde ficam os vestiários, provocando uma correria geral. Deve ter provocado prejuízos materiais ao clube, mas nada de monta.
Este fato deu condições para que o clube suspendesse, unilateralmente, a cessão de sua séde e piscina aos nadadores e técnicos dos outros clubes. A Federação e os clubes protestaram, espernearam, recorreram ao governo, mas mesmo assim, a suspensão se manteve até os dias de hoje. Fez mais o Yacth: contratou o próprio Aurino, um dos pivôs do tumulto, para professor de natação do clube. Condição “sine qua non”: o clube se afastaria das competições e não mais cederia sua piscina à Federação. Aurino seria apenas um “professor” para ensinar a nadar.(!)
Essa medida prejudicou enormente a natação da Bahia. Atrasou-a por 10 anos. Práticamente prejudicou toda uma geração de nadadores. Somente quando Heraldo Gama Lobo, que tinha sido nadador do clube, assumiu a Comodoria, restabeleceu as relações com a Federação (já Federação Baiana de Natação) e voltou a competir. Antes contudo, afastou Aurino Almeida e contratou Antônio Fernadez como técnico. Hoje o Antônio Fernandez é o Gerente Geral do Clube, por sinal, um grande adminstrador.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

FEDERAÇÃO DOS CLUBES DE REGATAS DA BAHIA




Reconhecida de Utilidade Pública pelo Governo da Bahia
Em Decreto nº. 8697 de 04.11.1933

Como e porque começar uma história da natação com a Federação de outro esporte? Expliquemos: há muitos anos atrás, a natação da Bahia era dirigida pela Federação dos Clubes de Regatas da Bahia.

Seria porque os mesmos clubes que praticavam o remo, também praticavam natação?

Coincidência apenas! Efetivamente, Esporte Clube Vitória, Clube de Natação e Regata São Salvador, Santa Cruz Esporte Clube e Clube de Regatas Itapagipe, disputavam provas de remo e também provas de natação.
Havia ainda o Yacht Clube da Bahia, que não disputava provas de remo, mas fazia suas regatas à vela. Também era filiado à FCRB.
Reparem bem: não era Federação dos Clubes de Remo da Bahia e sim de regatas. Explica-se, pois!

O problema residia na estrutura organizacional do esporte brasileiro. Todos os esportes praticados no País eram dirigidos por uma Confederação que se denominava “Confederação Brasileira de Desportos” – CBD.
Nesta confederação existiam os Departamentos de cada esporte, fosse terrestre ou aquático com um presidente e demais membros necessários. As federações estaduais eram filiadas à Confederação Brasileira de Desportos. Nos estados as Federações de Remo dirigia os esportes aquáticos: o próprio remo, o iatismo, o pólo-aquático e a natação. A Bahia nunca teve provas de saltos ornamentais!

Rigorosamente, o nome mais adequado para as Federações dos estados, deveria ser Federação dos Desportos Aquáticos da Bahia – FDAB – enquadrando-se na estrutura organização desportiva do País. Mas, não! Foi fundada em 4/11/1933 com o nome de Federação dos Clubes de Regatas da Bahia.

Do outro lado, nos esportes terrestres, existia a Federação Baiana de Desportos Terrestres – FBDT. Esta entidade, além do futebol, dirigia o basquete, o vôlei, o tênis de mesa, o próprio tênis e qualquer outro esporte que fosse praticado em terra.
Da mesma forma que na Confederação, existiam os departamentos respectivos, denominados Departamentos Técnicos com um presidente e demais membros de uma diretoria.

O autor desse trabalho, por exemplo, foi Presidente do Conselho Técnico de Tênis de Mesa da Federação Baiana de Desportos Terrestres na gestão do Dr. Valney França Machado. A título de ilustração, na época, realizou-se na Bahia um Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa, na sede do Clube Comercial da Bahia, na Avenida 7 de setembro. Era presidente do Departamento Nacional de Tênis de Mesa da CBD o Dr. Bergamini de Abreu. O Dr. João Havelange era o presidente da Confederação.

Mas os clubes de remo não são mais antigos que a Federação? São mesmos. O Esporte Clube Vitória é de 1899. O Itapagipe de 1902 e o Santa Cruz e o São Salvador são de 1904. Pois bem,anteriormente, as provas de remo eram organizadas pela Federação Baiana de Desportos através seu respectivo Conselho Técnico de Remo. Os clubes também organizaram algumas competições, mas sem que houvesse um calendário oficial.

Dois destaques precisam ser salientados na direção da natação pela Federação de Remo. Primeiro, os nadadores infantís e juvenís eram classificados por uma equação altura/idade. É a chamada antropometria, usada normalmente para caracterizar o estado nutricional de grupos populares. Segundo, os remadores iniciantes eram submetidos a uma prova de natação. Tinham que provar que sabiam nadar bem. Os exames eram feitos nos Tainheiros e há quem diga que também era usada a Praia da Preguiça.
Essa obrigatoriedade, teria sido o primeiro incentivo para o surgimento dos professores pioneiros da natação em Salvador. Por mais incrível que possa parecer, tinha muita remador que não sabia nadar. Um perigo!

AS ORIGENS DA NATAÇÃO DA BAHIA



Ainda não se escreveu as origens da Natação da Bahia como realmente ela aconteceu. Talvez existam ligeiras citações, mas ninguém se deu ao trabalho de pesquisar sua base, talvez pela dificuldade de encontrar elementos escritos de então. Somente uma pessoa que a tivesse vivido e dela tenha participado ativamente, poderia escrevê-la. É o nosso caso, modéstia à parte, que aqui não se coaduna com a necessidade desse relato.

Sentimos esta lacuna desde alguns anos atrás quando, nós próprios começamos a escrevê-la, ainda nos velhos tempos da máquina datilográfica. Infelizmente, este trabalho foi todo perdido num vazamento de água ocorrido em nosso escritório em um fim de semana. Não sobrou nada, desde que as pessoas que acorreram ao local não tentaram recuperar o que havia sido molhado. Não sabiam da importância!

Não diríamos que “tem males que vem para bem”, desde que o material então reunido era muito precioso. Para se ter uma idéia, a maioria das pessoas com quem obtivemos o mesmo já se foi. Perdemos todas as fotos e documentos bem como os depoimentos de ordem verbal. Os depoimentos de Walter Dunha, o Waltinho Acarajé,por exemplo, sobre os acontecimentos havidos na tentativa de atravessar o Canal da Mancha, estavam entre eles.

Por outro lado, contudo, nesse longo tempo desde a perda n’água, o que não deixa de ser irônico – na própria água - o que se tornava muito difícil no que se refere à divulgação do trabalho, ficou extremamente fácil com o surgimento da internet. Um livro, por exemplo, alcançaria poucas pessoas. Pela internet o alcance é incomensurável.

Vale salientar também que o incentivo que recebemos de muitos amigos (Augusto (o Guta) e Hernadez por exemplo) nos fizeram partir para a ação. Argumentam eles e muitos outros que, o autor desse trabalho, participou ativamente dos primeiros momentos da natação de piscina e de águas abertas na Bahia. Sabe de tudo, segundo eles. Por outro lado, como já estamos “avançados” na idade, perder-se-ia a última oportunidade de se contar essa história.

Antes contudo, precisamos dizer quem somos ou o que fomos. Não é enaltecimento que não se precisa disto a esta altura do campeonato, Trata-se de transmitir credibilidade necessária em qualquer trabalho histórico – origens da natação da Bahia. Por outro lado, o tempo apagou as paixões e amadureceu as idéias.

Inicialmente, fomos nadador pelo Santa Cruz na década de 1940. Nadamos por este clube na piscina do Yacht Clube da Bahia. Depois, já adulto, nadamos pelo São Salvador. Fomos presidente do Conselho Técnico de Natação de três presidentes da Federação Baiana de Natação: Enrico Rossi, Carlos Cordeiro e Humberto Oliveira. Antigamente, era este Conselho que fazia as competições em todos os seus pormenores e interpretava os regulamentos. Depois, fomos técnico do São Salvador e Esporte Clube Bahia por longos 20 anos. Por fim Presidente da Federação Baiana de Natação, eleito por unanimidade sem fazer campanha. Os Presidentes dos clubes filiados À FBN elegeram-nos sem sabermos. Posteriormente, uma comissão foi a nossa residência comunicar a nossa eleição. Deram-nos o título de “Rei da Natação da Bahia”. Talvez! Se isto tenha sido verdade, fomos um “rei” democrático e indulgente.

“Dedico este Blog ao meu irmão Clebinho – Cleber Gantois – recentemente falecido. Foi um grande nadador de crawl e borboleta e era uma pessoa maravilhosa. Deixou saudades! Foi uma pena!”. Era o mais moço dos homens da família. Seria preferível que fosse eu!”
Eduardo Gantois